Segundo Julio Cortázar: “la
cultura es el ejercício profundo de la identidad”. Não há ser humano destituído
de cultura, não há pessoa desligada de qualquer manifestação artística que
seja. O que forma a humanidade é a sua capacidade única de produzir, disseminar
e modificar culturas.
Este Projeto, pois,
representa a concretização dos anseios dos docentes, técnicos e discentes do Colegiado
de Língua Espanhola e Respectivas Literaturas do Departamento de Ciências
Humanas – DCH V, da UNEB, no município de Santo Antônio de Jesus – Bahia, bem
como de toda a comunidade acadêmica e da microrregião santantoniense que, desde
o ano de 1999 vêm, juntos, discutindo questões relevantes para toda a Academia
e também para a construção de uma cidadania mais forte, tudo isso abraçados à
difusão da língua castelhana e das diversas culturas que a compõem.
O SELE surge, em 2007, como uma série de vozes que se levantam a
partir da Espanha e da América Latina de língua espanhola, tornando audíveis
sons, palavras, ideias, sentimentos. Estas vozes que ecoam com outros timbres,
sotaques diferentes, culturas díspares entram em contato com a língua
portuguesa e aqui há a possibilidade do encontro.
Se o mito bíblico da Torre
de Babel gerou uma profusão de diferentes línguas e dificultou a compreensão
entre os povos, aqui, no Campus V, a Babel ganha outro significado, o de união
por duas diferentes línguas românicas: o português e o espanhol.
Para María Zambrano, “la
cultura es el despertar del hombre”. Dessa forma, uma cultura não deve
sobrepujar outra, sendo classificada como superior. Pelo contrário, em eventos
como o SELE, as diferentes culturas são postas em evidência pela sua riqueza e
peculiaridades. Através do curso de Letras – Espanhol, no DCH V, por mais de 15
anos, tem-se provado que as diferenças culturais, linguísticas, ideológicas,
religiosas, políticas, sociais não são fortes o bastante para causar separação
diante de um único fator: a humanidade que liga as pessoas e os valores que lhe
são universais, como o respeito ao outro, a valorização da vida, a disseminação
do amor.
Foi no mês de dezembro de
2007 que o SELE estreou, após ter sido gerado meses antes nos corações e nas
ações de todos os membros do Colegiado de Espanhol. Com o tema La enseñanza de la Lengua española, o Campus
V viu-se inundado de estudantes e admiradores da língua espanhola. Essa primeira
inciativa permitiu à comunidade santantoniense e adjacências perceber a
proximidade do castelhano e a relação estreita do Brasil com essa língua e
culturas advindas dela.
O II SELE aconteceu em novembro de 2009, com a temática
Español como lengua extranjera: enseñanza, investigación y extensión. Já nesse segundo momento, com discussões mais centradas,
o público deparou-se com o aprofundamento de questões lançadas na primeira
edição do evento: o Brasil não pode esquivar-se de perceber a importancia do español
enquanto segunda língua, pelo lugar onde está situado, pela seu lugar no
Mercosul, pelas questões políticas, económicas e por comungar, com os demais
países da América Latina, de uma história que se assemelha.
Em 2013,
no III SELE, durante 03 dias do mês de dezembro e com a temática Miradas transdisciplinares para la formación de profesores de ELE, a UNEB
recebeu, aproximadamente, 200 pessoas dispostas a conhecer, a socializar
conhecimentos, a aprender com o outro. Naqueles dias, as diferentes línguas não
se constituíam em barreiras, cujas muralhas criariam estigmas, gerariam
aversões e ojerizas. Ao invés, o outro era o que aquele público buscava; as
diferenças foram ressaltadas como forma de visibilizar a diversidade humana. Em
cada mesa, palestra, minicurso e oficina, diversos sotaques, outras nuances e
daí brota a música mais bela que os ouvidos humanos podem captar: o som da
vida. E aí não importa que seja em português, em espanhol ou latim, vida é
sempre vida e basta em si mesma.
Agora
em 2016, é o instante de trazermos de volta o som da vida e convidar,
novamente, a comunidade acadêmica, os discentes e docentes do Colegiado de
Espanhol, a sociedade santatoniense e toda a região para bailarem a esse som. O
IV SELE, cujo tema é Professor pesquisador
no âmbito da Língua Espanhola e Literaturas, instiga à vida. Segundo Frida Kahlo, “el arte más poderoso de la vida, es
hacer del dolor un talismán que cura”. A educação deve ter
propriedades curativas. Através da educação, o ser humano pode ser sarado da
ignorância que exclui o diferente, que afasta o dissonante e que faz com ele se
feche em si próprio, não enxergando quem está ao seu lado. Antes de ensinar
quaisquer matérias acadêmicas, a Universidade precisa exercitar a arte da
humanidade e da cidadania. E é isso que o IV SELE fará de 06 a 08 de dezembro
de 2016.